Há 70 anos, boletim já destacava importância do calcário em SP

O ano era 1952. O Instituto Geográfico e Geológico, ligado à Secretaria de Estado da Agricultura de Sâo Paulo, terminava de editar mais um boletim. Indo além de um documento burocrático, o boletim que levou o número 32 resumia um trabalho de 6 anos de idas e vindas pelo Estado.

Denominado “Calcário no Estado de São Paulo”, o material de pesquisa era taxativo:

“Teoricamente, a adição de qualquer tipo de calcário ou dolomito é útil ao solo. (…) Essa é a aplicação de calcário que terá enorme campo no Brasil e é, sem dúvida, o problema de maior importância da agricultura brasileira”.

O alerta, que consta de um estudo que vai completar 70 anos em novembro, é mais atual do que nunca. Sem calcário, conforme o texto na página 52 do boletim, a agricultura paulista e brasileira corre sérios riscos de ficar distante dos resultados esperados.

O material se encontra até hoje no site do governo paulista. Foi fazendo pesquisa para um conteúdo que a equipe do Sindical encontrou a preciosidade. São 73 páginas, nas quais o engenheiro José Epitácio Passos Guimarães destacou a importância da rocha calcária naquele momento – e sua representatividade para o futuro.

“No ano do estudo, o estado de São Paulo possuía apenas duas indústrias do segmento: Abílio Pedro e Amaral Machado, até hoje atuantes. No início da década de 1960, em apenas 5 anos, foram formadas pelo menos 10 mineradoras, principalmente na região central do estado, em função do afloramento da formação geológica Irati”, recorda João Bellato Júnior, presidente do Sindical.

José Epitácio Guimarães organizou o estudo, ao lado de outros engenheiros. O secretário da Agricultura, na época, era João Pacheco e Chaves.

O trabalho resultou na elaboração de um mapa apontando as áreas com calcário e dolomitos no estado, nas décadas de 1940 e 1950. Segundo os organizadores, “muito já se conseguira” com esse estudo sobre as rochas carbonatadas no estado, “embora pequeno tenha sido o número de engenheiros e parcos os recursos orçamentários”.

Daí haver agradecimento até aos motoristas da secretaria. As rodovias e estradas, quando existiam, eram precárias, mas serviram para o transporte dos pesquisadores e do material para análise.

MG mais beneficiado

Parte do cenário já era conhecido. “Quanto às reservas de minérios metálicos, Minas Gerais foi mais beneficiado que o estado de São Paulo”, comparou Guimarães.

Contudo, não era época de lamentações, lembravam os organizadores, já que os paulistas precisavam saber o real potencial dos recursos minerais do estado.

Afinal de contas, diz o texto de apresentação, a população da cidade de São Paulo quase dobrou de tamanho em 10 anos, de mais de 1.269.000 habitantes para 2.227.000 habitantes no início dos anos 1950.

O estudo do Serviço de Geologia Econômica, do instituto, focou em minerais, cal e cimento. Destacam-se os materiais de construção, pois ficava claro a necessidade de atendimento à demanda gerada pelas cidades em crescimento. Buscou-se saber qual a quantidade e a variedade de carbonato de cálcio e magnésio encontrado no estado.

Guimarães e analistas recolheram, e avaliaram, 227 amostras de 12 tipos de rochas com essas características. As amostras vieram de jazidas que praticamente moldaram um mapa do calcário paulista na época. Era como se uma linha fosse traçada ligando os municípios de Mococa, Araraquara e Fartura, “fixando” a fronteira a Oeste do estado. Dalí, as jazidas eram identificadas, seguindo-se em direção ao litoral do estado.

Importância da calagem

Dentre as várias aplicações das rochas, havia a presença na composição do cimento usado nas moradias e nos prédios comerciais e industriais da época. Destacava-se ainda a agricultura, que se utilizava do calcário e de dolomitos para correção do pH do solo.

“A calagem, operação de aplicar calcário e dolomitos ao solo, é importante por diversas razões”, diz o documento.

Entre elas, “particularmente”, estavam:

. suprir o solo de cálcio e magnésio;

. neutralizar a acidez do solo;

. favorecer a solubilidade de fertilizantes, como P₂O₅;

. promover a fixação do nitrogênio;

. promover a nitrificação;

. favorecer a assimilação da matéria orgânica;

. melhorar as condições físicas do solo;

. e facilitar a conservação do solo.

“Útil ao solo”

No material, Guimarães ressalta que, “teoricamente a adição de qualquer tipo de calçado ou dolomito é útil ao solo, porém, na prática as condições de industrialização e mercado governam os teores das especificações. Usualmente, deve ter 100% passando na peneira 10 ou 20 mesh e percentagens variáveis 15 a 95% – 100 mesh”.

A etapa seguinte do documento fazia referência ao caráter corretivo da acidez do solo existente no calcário. E afirma que essa correção deveria estar no topo das prioridades agrícolas nacionais, atuando em conjunto com dolomitos e fertilizantes.

Clique aqui e conheça o Boletim 32 na íntegra.

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