Entenda como a calagem reduz a necessidade de irrigação na lavoura

Os recursos hídricos são um dos principais fatores de impulsionamento da produtividade agrícola. Hoje, o tema ganha força no agronegócio paulista, em função das variações climáticas que estão afetando a disponibilidade de água para as plantas, como a cana-de-açúcar.

O ano de 2021 apresentou uma série de ocorrências extremas que reduziram os resultados no campo. E uma das técnicas utilizadas para combater o estresse hídrico é a calagem.

A prática corrige a acidez do solo, permitindo um enraizamento melhor da planta. A correção se dá com o uso de vários materiais, incluindo o calcário agrícola.

“Temos percebido um produtor rural mais atento a isso. A prática da calagem, quando feita de forma tecnificada, contribui para a manutenção da reserva hídrica do solo. Assim, propicia menor captação nas áreas irrigadas”, conta o presidente do Sindicato das Indústrias de Calcário e Derivados para Uso Agrícola do Estado de São Paulo (Sindical), João Bellato Júnior.

Parte dessa busca por maiores informações envolve a produção de açúcar na área centro-sul do Brasil. A estimativa da consultoria Datagro aponta que a nova safra está ameaçada pelos problemas climáticos. O cenário de geadas intensas e estiagem, visto no ano passado, traz a preocupação para a colheita, que começa em abril.

O tema foi discutido no evento que marcou a abertura da safra da cana, açúcar e etanol, realizado pela consultoria em Ribeirão Preto, no dia 9 de março.

Geadas e fogo ameaçam

O presidente da Datagro, Plínio Nastari, disse ao Canal Rural que a estimativa de 562 milhões de toneladas para a moagem de cana tem um viés de baixa. As geadas e o fogo registrados nos canaviais em 2021 afetam o resultado da primeira das três fases da colheita.

Fatores além do clima também entraram na pauta. As usinas aguardam a postura do governo diante da elevação dos preços dos combustíveis, o que deve influenciar o etanol. O conflito na Ucrânia e os próximos passos da Índia, outro grande produtor mundial, estão sob análise.

A consultoria ainda avalia que o rendimento industrial terá uma queda. A estimativa é de 138 quilos de açúcar total recuperável (ATR) por tonelada de cana, contra 142,9 na safra anterior.

Qualidade do solo

“Uma série de fatores pesam no resultado final. Porém, nossa indicação sempre é que usinas e parceiros façam a lição de casa, incluindo a qualidade do solo”, conta Bellato.

As previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para o período entre março e maio desse ano reforçam a orientação do Sindical. Na região Sudeste, a tendência é de chuvas abaixo da faixa normal, principalmente em abril.

Nesse cenário, ganham as colheitas das culturas de primeira safra. Na segunda safra, a finalização deve ser menos impactante.

A Associação Brasileira de Produtores de Calcário (Abracal) apresentou recentemente um material sobre os impactos da crise dos fertilizantes para o agronegócio nacional. O material mostrou que a aplicação de corretivos, como o calcário, ganha maior importância quando da ocorrência de eventos climáticos extremos.

Engenheiro agrônomo e especialista em solos, Jairo Hanasiro disse que “solos corrigidos produzem mais massa vegetal e raízes, elevam a atividade microbiana e se tornam mais estruturados, possuindo uma maior capacidade de infiltração e retenção de água”.

O lençol freático também sai ganhando nesse processo – veja aqui.

O estresse hídrico é um dos itens que mais afetam a produtividade da lavoura. A cana necessita de mais água na fase de crescimento vegetativo. Se não encontra, há uma redução dos entrenós da planta, ocorrência que impacta diretamente a produtividade.

Laranja: luta contra doenças

Outra cultura bastante forte no estado, a laranja tem no recurso hídrico um fator que amplia a força na luta contra as doenças. O setor citrícola paulista integra a principal região produtora mundial da fruta, mas as doenças – como o greening – são uma grande ameaça.

No ano passado, o agronegócio paulista consumiu 4,3 milhões de toneladas de calcário – uma alta de 18% em relação a 2020.