Agrônomos devem se preparar para clientes questionadores e novas tecnologias
O sábado, 12 de outubro, marca o Dia do Engenheiro Agrônomo no Brasil. A profissão ganhou força diante de uma economia nacional que abre cada vez mais espaço para o agronegócio.
Porém, o mercado se mostra mais questionador. No campo, as informações são cada vez mais checadas antes de serem aceitas. A oferta de novas tecnologias também exige, do agrônomo, maior capacitação, feita de forma contínua.
As opiniões são de Júlio César Assad de Mello. Paulistano, esse engenheiro tem 52 anos de idade. É formado em Agronomia e tem mestrado em Agricultura, ambos pela FCA da Unesp em Botucatu. O mestrado tem foco em fertilidade do solo e nutrição de plantas.
Como trainee, trabalhou na extinta Adubos Trevo, com sede em Porto Alegre. Desde 1997, atua com calcário agrícola e condicionadores de solo na Embracal, que integra o Sindical.
Veja a entrevista de Júlio ao site do Sindical.
Sindical – Quais são os principais desafios do engenheiro agrônomo?
Júlio César Assad de Mello – Os agrônomos são cobrados pelo uso de defensivos agrícolas e outros insumos que podem trazer alguma consequência danosa ao ambiente. Essa cobrança da sociedade por práticas agrícolas mais sustentáveis é real e crescente. A ciência agronômica e os profissionais de pesquisa e de campo precisam desenvolver e usar as técnicas já existentes que minimizem os impactos ambientais, sobretudo em relação ao solo e a água.
Outro desafio é o uso das diferentes tecnologias. A agricultura de precisão e as tecnologias digitais estão cada vez mais presentes e os agrônomos precisam se atualizar constantemente a respeito dessas novas tecnologias.
. Como conciliar novas tecnologias e as práticas básicas, que, muitas vezes, são deixadas de lado?
Vou dar um exemplo pessoal. Trabalhar com calcário agrícola mudou muito ao longo desses 27 anos no ramo. Vi o calcário deixar de ser um insumo negligenciado, um produto considerado de menor importância, para assumir um papel de protagonista no portfólio de insumos.
No início de minha carreira, nem eu mesmo tinha a dimensão da importância desse insumo para o desenvolvimento das plantas e para a agropecuária como um todo. Era comum ouvir de produtores que não precisavam de calcário, pois já tinham feito a calagem 3, 4 ou 5 anos atrás e que não precisavam repeti-la tão cedo. Isso sem ter feito análise de solo para comprovação da real necessidade ou não do corretivo.
Produtores de cana-de-açúcar faziam a calagem só na reforma do canavial, não se preocupando com a reposição do calcário ao longo dos cortes da cana.
Nessa jornada, o calcário voltou a ganhar importância, ter seus efeitos benéficos novamente estudados nas universidades e centros de pesquisa e passou a ser insumo fundamental para a produtividade. Parte disso talvez tenha se dado diante da alta de preços dos fertilizantes químicos, o que voltou os olhos para o insumo que potencializa o efeito do adubo: justamente o calcário.
Os agrônomos hoje precisam conciliar as tecnologias já consagradas com as novas, que surgem de forma muito rápida, inclusive as digitais. É preciso entender as novas tecnologias, filtrá-las, adaptá-las, porém, conciliando com tudo aquilo que está provado que dá resultados.
A calagem é uma prática consagrada por décadas, que voltou aos holofotes nos últimos anos nessa busca da produtividade e da sustentabilidade no campo.
. Como você vê questões como as mudanças climáticas?
Era um tema pouco abordado no início da minha carreira e que hoje tem ganhado destaque global. O clima está mudando. Não sabemos se isso é reversível ou não, mas algo precisa ser feito para tentar se evitar um cenário desolador.
O aumento da temperatura aliado a falta de chuvas que presenciamos nas regiões centrais do Brasil, ou ao excesso de chuvas no Rio Grande do Sul, nos revela uma situação assustadora, sobretudo para a agricultura. Será que caminhamos para um quadro de desertificação de áreas que hoje são produtivas? Alguns estudos mostram que sim.
Será um desafio para os agrônomos adequar a busca pela produtividade ao cenário adverso causado pelo aquecimento e pela desigualdade pluviométrica que já estamos vivenciando.
. Como lidar com as novas gerações de agricultores e suas visões de mundo?
É uma geração mais técnica e mais questionadora. Mas vejo como um fator positivo, na medida que obriga os profissionais a se prepararem melhor para lidar com essa atitude mais pragmática, a voltar a estudar, a buscar respostas técnicas. Esse novo modelo ajuda na evolução e aprimoramento das relações técnicas e comerciais no campo.
. Perto dos 30 anos de sua formação na faculdade, o que diria aos agrônomos que estão chegando agora?
Sempre estudar, se atualizar e sobretudo abraçar uma área de atuação que desperte paixão, na qual você sinta orgulho de estar contribuindo com o produtor rural para as boas práticas agrícolas.
Trabalhar de forma transparente, respeitosa com aquele que produz, de forma que te permita deitar a cabeça toda noite no travesseiro e ter a consciência tranquila de que sua atuação profissional contribuiu fortemente para o sucesso de alguém.